21/02/12

Chuva na Haupstrasse

Enrodilhados neste disforme
edredão de penas, sofre-se o conceito
germânico de leito, ouvindo chegar
um Junho humedecido, no Balkon envidraçado
do quarto do hotel Schöneberg. Desistimos
da visita à sepultura de Marlene, num
pequeno cemitério aqui próximo, que dizem
bastante arborizado e apetecivelmente
deserto. E ficámos a olhar
a mulher turca de cabeça velada, com
a filhita pela mão, vestida em tons
berrantes. No passeio em frente,
os grandes contentores da Rotes Kreuz,
para donativos de roupas usadas,
atestam a organizada caridade
do povo alemão. Até a chuva
parece aderir organizadamente a todas
as formas estáticas ou animadas, com
o seu antigo manto.

                                                     Berlim, 96
Inês Lourenço

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