Há um homem
é um homem
é um homem
percorrido pela luz
e sorri
a legenda diz que é a
última foto
última foto
mas todas as imagens
que eu vi a seguir
dele,
sorrindo por dentro
desse diafragma
por onde escapa aquele ritmo
aquele ritmo doido
gritam
aquela não é a última foto
e a imagem
vive agora nos meus dedos,
e nas colunas de som
de todas as discotecas de Berlim
e do mundo,
a imagem vive nessa
bela abstração
a que os gregos um dia
chamaram musiké
a arte das musas
e do céu mais longínquo
do céu mais negro e mais profundo
ele canta
e não é mais a imagem
não é mais a última foto,
esse vislumbre de metamorfose,
é forma além da forma,
som sucedendo-se ao silêncio.