28/10/12

O osso

Preciso e lento,
recordo um poema escrito
em tempos no teu livro,
que me foi oferecido
quando ainda a trémula
maré do verbo sossegava
no meu corpo.

Aceito o meu percurso,
levou-me para longe
dos caminhos claros
que o fogo dos teus versos
acendia:

aparar o corpo, a carne,
até que reste apenas o osso,
cintilante. A luz do dia.

Look

Robert Frank

22/10/12

Divina Agustina

Fez esta semana noventa anos. Deixou de escrever por causa da doença. Mas de cada vez que pegamos num livro dela, percebemos a fraude que é grande parte da literatura portuguesa contemporânea, os prémios e os louros, as consagrações e as viagens a Estocolmo, os festivais e toda essa treta. Escrevinhadores há muitos, demasiados. Escritores, muito poucos. E como Agustina Bessa-Luís, raríssimos. Celebremos o que podemos ler. Celebremo-la.

20/10/12

Manuel António Pina (1943-2012)

Manuel António Pina no recolhimento deste blogue, longe do clamor da cólera e da política, e um lamento  (mais ou menos) profissional: que na cabeça de alguns comerciantes de livros os escritores existam apenas quando morrem. Ver as montras das livrarias celebrar o desaparecimento é a última derrota do poeta. Dias tristes que mais tristes ficam, pequenos charcos de nada.

11/10/12

Notas para um mapa mental americano

Syracuse. Big Sur. Manhattan. Rocky Mountains. Route 66. Memphis. Las Vegas. Death Valey. Seattle. Alaska. Great lakes. Illinoise. Amarillo. New Orleans. Connecticut. Nantucket. Santa Barbara. San Francisco. Mulholland Dr. Oklahoma City.