31/08/12
28/08/12
27/08/12
23/08/12
22/08/12
Borges em Paris
Um livrinho que saiu há algum tempo colige uma série de entrevistas a escritores publicadas na Paris Review. Claro que quando saiu não lhe dei a devida atenção, sobretudo porque. Calhou ser este verão, e não outro, e tenho para mim que pode haver uma razão para isso, mas terei de consultar calendário Maia. Entretanto, Jorge Luis Borges fala com seu entrevistador. Obviamente, Borges, apesar de falar num inglês perfeito e estranho, era quase cego:
"(...) E isto continua a ser para mim uma enorme surpresa porque me lembro de que publiquei um livro -deve ter sido, julgo, em 1932 - e descobri que no final do ano tinham sido vendidos nada mais nada menos do que trinta e sete exemplares.
Era a História Universal da Infâmia?
Não, não. A História da Eternidade. A princípio quis descobrir, um por um, cada comprador do livro para lhes pedir desculpa e também para lhes agradecer o que tinha feito. Há uma explicação para isto. Se pensarmos em trinta e sete pessoas, essas pessoas são reais, quer dizer, cada uma delas tem o seu próprio rosto, uma família, vive numa determinada rua. Já se vendermos, digamos, dois mil exemplares, é o mesmo que não termos vendido nada, porque dois mil é um número demasiado grande - quer dizer, grande demais para poder ser abarcado pela imaginação. Enquanto trinta e sete pessoas - talvez trinta e sete até já sejam demasiadas, seria talvez melhor serem dezassete, ou mesmo sete - mas mesmo assim trinta e sete pessoas estão ao alcance da nossa imaginação."
E é assim. Depois, os dois senhores - Borges e o entrevistador americano - continuaram a falar durante algum tempo até a entrevista terminar e Borges voltar ao estudo do norueguês antigo.
13/08/12
10/08/12
Clint Eastwood
Se eu não gostasse tanto de Clint Eastwood, talvez... reformulemos: se eu não gostasse de Clint Eastwood, certamente que agora teria uma excelente razão para não gostar. Apoiar Mitt Romney poderia ser, como escreve o Rui Bebiano, imperdoável. Acontece que gostar de Clint Eastwood, sem obrigar a que eu suspenda os meus valores éticos - que são relativamente absolutos, ou absolutos do meu ponto de vista, porque são eles que moldam o modo como vejo o mundo -, leva a que seja praticamente impossível julgá-lo. Este "gostar" não é apenas gostar; é achar que o sacana comove-me tanto, mas tanto, por fazer tão bem cinema e falar do que é ser humano e todas essas tretas que nos fazem gostar de filmes, que se torna impossível não gostar dele, alguém que parece existir para tornar a nossa vida mais suportável. E caramba, Clint não é um nazi anti-semita como Céline ou um fascista como Ezra Pound. É um republicano fiel, como o foram John Wayne ou John Ford (a partir de certa altura da sua vida) ou Jimmy Stewart. Nada de mais, não consigo gostar menos destes - e de Clint - por terem sido o que foram. Relativizemos, pois então.
07/08/12
Edições DOCUMENTA
Não são muitas as vezes em que os marginais passam a perna às leis do mercado, por isso é de assinalar quando isso acontece.
A Assírio & Alvim (a marca e o catálogo) foi comprada pelo grupo Porto Editora, mas passado pouco tempo surgiu o projecto que acaba por ser a Assírio com outro nome, as Edições Documenta, constituída por quatro chancelas: a Sistema Solar, que publica ficção, a Documenta, dedicada ao ensaio e às artes plásticas, a Pedra Angular (uma marca antiga trazida há algum tempo para este novo grupo editorial), devotada à religião, com o dedo do poeta José Tolentino Mendonça, e os livros de bolso da BI, que tinha começado por ser uma parceria entre três editoras de referência: a Assírio, a Relógio d'Água e a Cotovia.
Os primeiros títulos publicados mostram a mesma exigência de sempre: boas traduções, grafismo exemplar (próximo da Assírio) e um critério editorial inatacável: os livros escolhidos e apresentados pelo tradutor Aníbal Fernandes são o melhor exemplo deste critério.
Entretanto, a antiga Assírio vai-se perdendo na enxurrada de novidades do grupo a que pertence, nada de novo sai, os livros esgotam sem previsão de reedição. Na prática, já desapareceu a Assírio, tal como tinha previsto aqui. Longa vida à Documenta e a quem continua a fazer da edição um prazer e motivo de alegria; mais, muito mais, do que um negócio.
06/08/12
Marilyn
Se Marilyn Monroe não tivesse morrido há cinquenta anos, não seria Marilyn, a Marilyn de Ruy Belo, do mundo. Viveremos a sua beleza para sempre, sem a mancha da velhice ou o desgosto do lento desvanecimento. Poderia haver pior destino do que o dela.
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