O sentido duplo da frase: não há na verdade qualquer erro. Apenas funciona se ignorar a má pontuação. Na verdade, não há qualquer erro. Pena que me tenha convencido, ao longo do tempo, de que a verdade é mais errada do que a mentira. Não porque seja menos moral. Ou mais fácil. Antes porque torna tudo muito mais difícil. E a frase errada torna-se mantra inútil. Circular.
31/12/10
29/12/10
28/12/10
O Americano
Há uma certa elegância não desprezável na câmara de Anton Corbijn. Em Control seria mais evidente, mas a verdade é que a estetização de uma tragédia - a morte de Ian Curtis - esvazia, até certo ponto, a importância do acontecimento. O Americano não corria esse risco - adapta uma obra de ficção. Mas também não corre o risco porque Corbjn decide evidenciar a sua veia cinéfila. Não há muito de Antonioni - as críticas que li, estranhamente, dizem que sim. Mas há uma certa secura na caracterização do assassino - um George Clooney em underacting, rosto fechado a fazer lembrar, estranhamente, um Buster Keaton deslocado - e um gosto bem vincado pela contemplação da paisagem. Mas esta procura dos espaços abertos do campo italiano contrasta com as cenas dentro de portas, actos de um homem só sublinhados pela proximidade da câmara. O assassino de Clooney é um criminoso metafísico, como o carteirista de Bresson. Depois de um trabalho que corre mal - a "amiga" morre - decide desistir e aceitar uma última missão. O trabalho consiste em fabricar uma arma para uma assassina. A destreza do artesão sobressai através do trabalho de montagem, dos sucessivos close ups das mãos do assassino montando a arma, afinando a mira. O assassino de Clooney é um homem fora de tempo, um artista. Por isso, o seu disfarce na aldeia italiana onde se exila é o de um fotógrafo. Mais do que um duplo do realizador - Corbjin começou por ser isso mesmo - ele é um duplo de si próprio; o shoot do atirador é o mesmo do fotógrafo (e do realizador, já agora), e os dois mesteres convergem na cena em que Clooney e a assassina (Thekla Reuthen) vão para o meio da natureza afinar a mira da espingarda (óbvia homenagem a uma cena de Day of the Jackal que o Ouriquense lembra). O fotógrafo de paisagens disparando contra o céu e a perfeição de um lugar que parece não existir.
Depois, há a personagem de Clara, a prostituta por quem Jack se apaixona. Um lugar comum que, não o deixando de ser, acaba por se tornar obrigatório no percurso do assassino. E o que acaba por salvar esta fraqueza do filme é a extraordinária beleza de Violante Placido; ela consegue roubar todas as cenas a Clooney. Curiosamente, pode-se comprovar que grande parte dos fascínio de Placido nasce do seu desempenho, que acaba por torná-la mais sedutora do que as fotos de sessão encontradas no Google. Desde Naomi Watts em Mullholland Drive que não sentia tal distância entre a realidade e o cinema. A elegância de Anton Corbjin, apesar de alguns defeitos, acaba por levar a melhor no fim.
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