Vamos lá fingir que isto é a sério; houve uma eleição, o povo votou (60% dele, 60) e deu mais algum tempo ao político com o discurso mais vazio da política portuguesa. Sócrates não sabe o que é ideologia, não tem uma estratégia a longo prazo, vive para ser amado. Mas o povo gosta de McDonalds e de Sócrates e de Santana Lopes, e sempre gostou de Portas, quando ele andava pelas feiras ou a comprar submarinos, mais agora que decidiu eleger como principal bandeira do CDS o combate ao rendimento social de inserção. O povo gosta dele porque o povo não é parvo? Não, o povo é preconceituoso, diz mal do cigano que recebe do estado e do vizinho que está há um ano em casa; o povo tem pouco e quer que os outros tenham ainda menos. Por isso, votou Portas. A onda será breve, acredito, porque o centrão não gosta do populismo, venha ele de onde vier. Durará o tempo que durar o governo de coligação com Sócrates. Escrevo Sócrates porque o PS neste momento é Sócrates - Alegre espera que o apoiem na missão presidencial e vai-se calar bem caladinho se a coligação for para a frente. Seguindo em frente então, que Cavaco amanhã dirá se foi ou não escutado, e decidirá se há governo ou não, e de certeza que Sócrates já tem preparada a pele de cordeiro que irá usar durante os próximos tempos; não quatro anos, nunca, até às próximas eleições e ao regresso de um Messias qualquer que salve o PSD da obsolescência.
Mas se não fosse a sério, pensaríamos: coisa estranha que aconteceu aos líderes dos partidos no momento do discurso da vitória; eles, que se apressam sempre a lamentar os números da abstenção e o desinteresse geral dos portugueses, esqueceram-se de referir a ausência de 4 milhões. Ausência ou presença absoluta? O regime que nos tem governado faz por esquecer estes descontentes, mas, mais tarde ou mais cedo, o seu peso será insustentável.