Em todo este miserável caso do crítico censurado em público por uma das suas chefias, o que me deixou verdadeiramente surpreendido - não me surpreenderam os 200 comentários indignados nem a carta da direcção do Belenenses, porque a ignorância exige sempre os seus direitos, neste caso o direito a existir - foi o sub-director que decidiu escrever em editorial contra um dos seus, por uma questão de pormenor, ou pior, de estilo. João Bonifácio é, actualmente, e assumo a subjectividade desta afirmação, o melhor crítico musical (na área do pop-rock) a escrever em jornais nacionais (esquecendo João Lisboa); tem um estilo original, e assume essa originalidade sem preconceitos, e isto por cá é raríssimo (o principal problema) - mas ele lê, e bem, o que os críticos estrangeiros fazem, e decidiu seguir o bom exemplo. Já não é a primeira vez que esta originalidade provoca polémica - da primeira, não passou dos blogues, mas ele lá teve de vir explicar, falar daquele lugar-comum de que escrever sobre música é como dançar sobre a arquitectura. A partir deste ponto de subjectividade absoluta, tudo deveria ser permitido, e não me parece que não vivamos numa sociedade que defenda a liberdade de expressão. Mas Nuno Pacheco, contrariando a ideia que eu tinha dele - como sendo o sub-director mais lúcido do Público - cede à chantagem de um clube de futebol e, vamos lá ver qual é o termo técnico, baixa as calcinhas pedindo perdão ao Belenenses e às centenas (???) de leitores indignados com o bruto do crítico. Um texto crítico, de opinião, que me fez rir logo na abertura, com a aquela referência ao deserto que é o estádio do Restelo - e se querem verdade e dignidade, o estádio do Restelo é mesmo um deserto em dias de bola, uma tristeza de espectáculo que deveria envergonhar os dirigentes do clube - um texto bem escrito que mereceu a censura sem ter sido sequer referido - falta de educação - o nome do crítico em questão - Nuno Pacheco fala apenas de um colega. Como muito bem escreve o Luís Miguel Oliveira, "ofender muçulmanos está bem, ofender o Belenenses é que não?" Palavras para quê, é um artista português.
Sou bem capaz de começar a comprar apenas o I. E isto não é uma ameaça.