Nesta importantíssima problemática do Oscar (sem acento), o que me aborrece, mais que tudo, é a unanimidade em relação a Daniel Day-Lewis. O papel de Daniel Plainview é grande. Certo. Grande no sentido de ser extenso, de ter muitas falas para decorar, monótonos monólogos monocórdicos. Plainview é um crápula. Mais, é um crápula que enriquece. À custa do petróleo. Se isto não é o mais perfeito cliché que se pode produzir sobre a América, não sei o que possa ser. A alma liberal de P. T. Anderson tanto dá para chorar sobre bons sentimentos derramados (Magnolia), como para servir uma fábula anti-capitalista que, desconfio, metade dos membros da academia não apreendeu na totalidade. E o que faz um inglês que quer ser irlandês no meio disto tudo? Faz-se ao Oscar. Atira-se desalmadamente, cresce, assoberba-se, deixa-se captar em toda a grandiosidade balofa do contra-picado. Rouba cada cena do filme, mesmo aquelas em que não aparece (haverá alguma?).
Qual é o meu ponto? Simples - Day-Lewis não precisava deste papel (para todos os efeitos, também não precisava de ter aparecido no postiço de Scorcese, Os Gangs de Nova Iorque) para provar que é um grande actor. Grande, dançando nas margens de um overacting que, nas palavras mansas da maior parte dos críticos, é contido. Ora, expliquem-me lá de que modo Day-Lewis é contido a fazer de Plainview? Nos gritos, na violência, no domínio físico de cada cena, em especial aquelas em que aparece Paul Dano?
Onde quero chegar? Há cenas maiores em filmes menores que provam o ponto: lembro-me de As Bruxas de Salem, ou de Em Nome do Pai. Arrisco mesmo uma hipótese: Day-Lewis tornou estes dois filmes melhores do que na realidade são (apesar da densidade dramática do texto de Arthur Miller no primeiro filme referido ser inescapável). Mas eu, de caras, prefiro Viggo Mortensen em Promessas Perigosas, e apenas porque ainda não vi os filmes dos outros nomeados - e acho que Tommy Lee Jones vai ser daqueles bons actores que, por nunca terem feito de aleijado, deficiente, psicopata ou tudo ao mesmo tempo, chegam ao fim da carreira com não sei quantas nomeações e sem Oscar. Mortensen cria uma personagem. Day-Lewis limita-se a ser ele próprio; imponente, sim. Marcante, claro. Mas dificilmente alguém que consiga sobreviver ao seu próprio talento. Daniel Day-Lewis a fazer de Daniel Day-Lewis. E nem o sotaque o safa.
O Oscar é mais que merecido.
Onde quero chegar? Há cenas maiores em filmes menores que provam o ponto: lembro-me de As Bruxas de Salem, ou de Em Nome do Pai. Arrisco mesmo uma hipótese: Day-Lewis tornou estes dois filmes melhores do que na realidade são (apesar da densidade dramática do texto de Arthur Miller no primeiro filme referido ser inescapável). Mas eu, de caras, prefiro Viggo Mortensen em Promessas Perigosas, e apenas porque ainda não vi os filmes dos outros nomeados - e acho que Tommy Lee Jones vai ser daqueles bons actores que, por nunca terem feito de aleijado, deficiente, psicopata ou tudo ao mesmo tempo, chegam ao fim da carreira com não sei quantas nomeações e sem Oscar. Mortensen cria uma personagem. Day-Lewis limita-se a ser ele próprio; imponente, sim. Marcante, claro. Mas dificilmente alguém que consiga sobreviver ao seu próprio talento. Daniel Day-Lewis a fazer de Daniel Day-Lewis. E nem o sotaque o safa.
O Oscar é mais que merecido.
[Sérgio Lavos]