Procurei um parágrafo de Vila-Matas que li ontem, quando pensei nele (e já não o via há tantos anos). Não encontrei, mas falava de cada um de nós como paginador, cujo trabalho ingrato consiste em ir adequando o texto à página sem saber o que virá a seguir; a metáfora aproximava esta tarefa à vida: compor as coisas que fazemos na esperança que essas coisas se encaixem perfeitamente no tempo que virá. Hoje a notícia desordenou todos os parágrafos que a vida tinha alinhavado para ele. Conheci-o pouco, mas marcou muito. Um tipo culto, excelente livreiro, óptimo gráfico, exigente editor da revista Intervalo. Não é justo que o Paginador lá em cima trate assim gente como ele. Procurem o nome do Olímpio Ferreira na ficha técnica dos livros da Tinta da China, da & Etc, da Averno (belíssimos, os livros produzidos para esta editora). Em sua memória.
[Sérgio Lavos]