30/03/06
Ironia
Light Marketing
29/03/06
A Natureza do Mal
João Pedro George e a providência acautelada
Vendem mais jornais, com esta história? Duvido. Vender-se-ão mais livros, depois da poeira se espalhar em redor? Com toda a certeza. A Margarida e o João Pedro aposto que vão esfregar as mãos de contentamento. O que se aproveita, afinal? A qualidade (ou a falta dela) de Margarida já foi há muito tempo provada, agora gostava de saber o que move o crítico? O mérito do seu trabalho académico torna-se nulo se ele insistir na demanda contra a não-literatura. Deixem-nos estar, as Margaridas, os Migueis, os José Rodrigues deste mundo. Há espaço para tudo. Não mexa na lama, pois corre o sério risco de se sujar. Quem se lembra da literatura de cordel de épocas passadas? Valerá a pena a trabalheira que teve? A que custo, com que ganhos?
P.S.2: Passatempo interessante: seguir os links da blogosfera sobre o tema, e descobrir quem é amigo de quem nesta história. A partir daqui, por exemplo. Com passagem obrigatória por aqui. E aqui. E aqui. Revelador.
28/03/06
Os jornalistas que temos
Benfica
27/03/06
Do umbiguismo (3)
Do umbiguismo (2)
O gosto crítico
Gosto
Opinião
24/03/06
The Queen Is Dead
Isto foi assim, uma história como outras, invariáveis outras, os quatro encontram-se e decidem formar uma banda, viviam-se os anos de ferro de Thatcher, a idade do reencontro no tempo do desencanto, e já se sabe, Manchester é uma cidade cinzenta, negra de tão cinzenta, imagino assim que os quatro se juntam e se divertem a tocar, e Stephen Patrick Morrissey, descendente directo, como sabemos, de Oscar Wilde, julga que o palco a que Wilde não teve direito estará definitivamente ao seu alcance. Nem tudo é perfeito. A persona que se passeia pela cidade exibindo em doses iguais tristeza e cinismo estará mais protegida do que os seus companheiros, pensam, mas não, talvez devaneie, amigos, afirmou o outro génio que calhou em sorte a Mike Joyce e Andy Rourke - em favor dos dois, elogie-se aqui a competência acima da média no acompanhamento dos dois fora-da-lei humana residentes - e dizia que Marr continua a reafirmar a amizade que unia a banda durante os anos de percurso em conjunto, Morrissey durante muito tempo renegou o legado, mas, enfim, alguém achará que a carreira dele a solo alguma vez se aproximou sequer do brilho dos Smiths? Dizia que era assim, por exemplo podia acontecer, numa noite Marr à guitarra compor duas ou três músicas, entregar a cassete a Morrissey e no dia seguinte este ter prontas as letras, repito, dois dias, não vale a pena insistir no espanto, corro o risco de me repetir. Quem ache que o êxito depende dos tais 99% de transpiração depressa devia ter uma conversinha com os seus deuses. Isto é, alguém duvidará da desprendimento de Marr e Morrissey escrevendo para as estrelas? Não o sabiam, no máximo desconfiavam, um bom músico é, antes de mais, um bom ouvinte. Wilde intuía qualquer coisa, mas a dúvida nunca se dissipou completamente, talvez tivesse estado muito perto (Cemetry Gates é uma daquelas músicas... vibra tão fundo que quase se aproxima do silêncio puro) quando finalmente morreu de despeito em Paris, a fama de que se vira privado de um dia para o outro era um sinal para o futuro, depois do seu desaparecimento. Kafka, e este nem sei porque é chamado à contenda, passou pela vida achando que o fracasso era uma segunda pele que teria de carregar até morrer, não poderia saber o que veio depois. Mas de que falo? Dos criadores, quando deveria falar da obra? Pois se é apenas ela que sobrevive, apenas ela que pode aspirar à ilusão de eternidade? (The Boy With the Thorn..., guitarra tão clara desbravando o caminho de sombra que as palavras de Morrissey semeam.) Talvez quem não tenha passado por aquela época não devesse ter o direito de se emocionar de forma tão patética como eu o faço, o choradinho da pop é chão que deu uvas, mas o que o tempo tem instigado na minha coluna vertebral é a clara noção de belo nas sua múltiplas manifestações. Os amigos alguns anos depois zangaram-se. Como deve ser, quando se trata de música pop. A brevidade da beleza é o seu mais decisivo atributo. Para o resto já temos aí a vida.(Vale a pena escrever: os mais perfeitos 37 minutos da música pop.)
22/03/06
Perfect pop song
Tempo
20/03/06
A Condessa Russa
O melhor filme em meses, fazendo esquecer a sucessão de desilusões oscarizáveis a que assisti nos últimos tempos. Elegância e romantismo na evocação de um tempo e espaço fascinantes, Shangai pouco antes da invasão japonesa, em 1937. Juntando a isto um argumento de Kazuo Ishiguro, o escritor da discrição e da subtileza emocional, e temos o melhor filme de James Ivory desde "Os Despojos do Dia". A sequência que evoca os primórdios do cinema, quando a filha da condessa espreita por um cinematógrafo rudimentar, é comovente.José Manuel Fernandes e a verdade
Se nós sabíamos que a razão para a invasão era inexistente, quem defendeu a operação também sabia, e contudo continuraram a avisar para um perigo potencial, e agora voltam-no a afirmar, sem pudor, como José Manuel Fernandes hoje faz, mostrando no mínimo que viu o filme de Spielberg, "Relatório Minoritário", em que se fala de crimes que ainda não aconteceram. Lamento, mas ainda não conseguimos adivinhar o futuro. Mas a doutrina de guerra preventiva é isto mesmo, actuar antes do facto acontecer, e se ela não se assemelha a tirania, não sei a que se possa assemelhar. Depois, defende-se o inconcebível apesar de... esquecendo os milhares de mortos, o estado de guerra civil iminente, os abusos das forças ocupantes, o vampirismo dos contratos efectuados com companhias com provadas ligações aos instigadores da invasão para a reconstrução do país e exploração dos poços de petróleo, etc., etc., etc. Mas a mim não me surpreende a posição de José Manuel Fernandes. Quando, sabendo o que sabia - e, principalmente, o que não sabia - defendeu um erro colossal, colocou-se do outro lado da barricada. Exactamente o sítio onde eu nunca me hei-de colocar.
19/03/06
Lição de bola
18/03/06
Política de autores
"Nascido em comunhão com a terra, os meus conhecimentos da natureza são práticos. Diferencio um carvalho dum castanheiro, um macho dum cavalo; sei que a rama da batata não cresce alta como a do tomate; que o voo da pomba é silencioso e o da perdiz barulhento. Mas de vez em quando tenho inveja dos que sabem o nome e os detalhes das plantas, das flores, das árvores; dos que distinguem pelo pio ou pela pena a espécie dos pássaros.
O meu receio, porém, é de que, pelo menos nesse particular, a um aumento do saber corresponda uma diminuição do sentimento. Eu não sei se se continua a olhar com alegria ingénua para a giesta em flor quando se lhe chama Genista lydia, se lhe conhece a genealogia e se estudou a composição química do solo em que ela melhor se desenvolve."
[Sérgio Lavos]
17/03/06
Mr. Hide
[Sérgio Lavos]
Pleonasmo
[Sérgio Lavos]
I wanna be adored
Há quem passe uma vida inteira tentando perceber a razão do esquecimento de Deus, matutando no génio a que não consegue aceder, aplicando fervorosamente as regras a que são sujeitos os outros mortais, aqueles onde não habita já a cinza da centelha original. Os esforçados, os laboriosos, os funcionários aplicados nas suas tarefas corriqueiras sonhando obter algum dia o reconhecimento dos que com eles suportam o fardo da injustiça divina. E depois, há os outros. Os que ostentam o génio que um bastardo qualquer decidiu distribuir de forma aleatória, esquecendo a maioria invejosa e frustrada que apenas existe como carne para canhão, massa de indivíduos banais que serve como balanço dos extraordinários, ou simplesmente como turba adoradora que se limita a assinalar o génio dos escolhidos. E estes, quase sempre, estão a leste de tudo, ignoram olimpicamente a genialidade e passam pela vida naquele limite perigoso entre razão e loucura, a fronteira entre a iluminação e a alienação. E depois, há os outros. Os que, além de terem caído nas boas-graças da Providência Divina, ainda gozam com o resto de nós, gritando ao mundo a puta da injustiça de que fomos alvo recorrendo aquilo a que o comum mortal chama arrogância mas a que se deveria chamar simplesmente de assentimento, um reconhecimento do fardo a que o génio está sujeito. E enquanto escrevo isto, é um acaso que esteja a ouvir os Stone Roses, incluindo "I wanna be adored", perfeita geometria musical onde tudo parece ter sido forjado de maneira a imitar um qualquer arquétipo inacessível, com a ressalva da cópia ser ainda mais perfeita do que o original. Aplicando uma expressão prosaica a esta canção, tudo parece existir no espaço e tempo exactos. Aquele início com uma reverberação sónica em crescendo, o baixo de Mani a entrar, a primeira guitarra, a segunda, como água assomando, a bateria de Reni primeiro discreta e reassumindo um protagonismo quando a guitarra de John Squire o decide acompanhar, até que entra a voz de Ian Brown, o ritmo muda, recua, acelera, varia, o baixo contínuo com a bateria saltando de variação em variação, o refrão, guitarras em uníssono, solo, Ian Brown calado - um achado, o refrão ser apenas instrumental - o recuo da vaga, o regresso aos tons mais baixos, a repetição de Brown "I wanna be adored" até que o solo de Squire volta e de repente pára. Tudo no sítio. É isto.[Sérgio Lavos]
15/03/06
Portas e Cavaco
[Sérgio Lavos]
11/03/06
Speaker's Corner
[Sérgio Lavos]
Anúncio
O Espectro
[Sérgio Lavos]
09/03/06
Da máquina
[Sérgio Lavos]
Método
[Sérgio Lavos]
Da culpa
[Sergio Lavos]
07/03/06
Tuga
05/03/06
Por um punhado de óscares
A festa na aldeia de Hollywood terá lugar hoje à noite, e apetece-me falar de cinema. A festa em Hollywood é hoje à noite e, uma vez mais, não vi mais de metade dos candidatos ao óscar. Não irei assistir à cerimónia pela TVI por duas razões, uma verdadeira e a outra pura invenção: arrepia-me a perspectiva de ver Jon Stewart com um comentador português papagueando por cima das suas tiradas, e amanhã, como qualquer bom suburbano, levanto-me cedo. Houve um tempo em que podia atravessar a noite colado ao televisor, mas nem nessa altura o fiz mais do que duas ou três vezes. Se há coisa de que não abdico é o tempo que passo a dormir. Vou perder alguma coisa importante? Nem se coloca a questão. O que posso ver depois, no compacto do dia seguinte, compensa eventuais perdas. Não ver Jon Stewart em directo, por exemplo (e repito-me). O filme sobre pastores gays irá ganhar? Não me pronuncio. Não vi. O que me suscita alguma preocupação é a insistência da imprensa no epíteto de "filme de cowboys gay" colado à obra. Annie Proulx já explicou numa entrevista, eles apascentam ovelhas. Não vacas. Mas esta moderna invenção, o maravilhoso marketing, dispensa estes pormenores. Há quem queira vender sabonetes, presidentes, outros guerras sob falsos pretextos, e outros ainda querem convencer meio mundo de que o filme é transgressor. Repare-se, a transgressão é vendida bem enfeitada com o slogan da história de amor intemporal. A estratégia não é assim tão discreta. Agrada-se num passo os críticos e contribui-se noutro para o hype, chamando às salas público que de outro modo fugiria a sete pés do filme "gay". A marginalidade entra na corrente de modo imparável. (Os 56 milhões de espectadores provam-no.) Seja como for, Ang Lee é um cineasta estimulante - o filme "A Tempestade de Gelo" foi marcante - e espero ver a fita. Mas o resto pouco tem a ver com cinema. Os filmes que conheço, "Munique" e "Capote" são dois excelentes exemplos de obras oscarizáveis. Ambos esforçados, ambos muito longe do que se pode considerar uma obra-prima. Para acabar de vez com os óscares: em 1958, ano de "A Sede do Mal", "Vertigo" e "Quanto Mais Quente Melhor", três obras que obrigatoriamente farão parte de qualquer lista dos melhores filmes de sempre, ganhou o musical "Gigi", com um recorde de 11 estatuetas. É preciso dizer mais?04/03/06
mAMA
O spleen dos subúrbios
Watch the evil black the sky
The storm has ripped the shelter of illusion from our brow
This power is no mystery to us now
Leave your spirit genocide, the cancer you won't remove
We cast our funeral rose inside and bury the need to prove
Our mutilation is to gain from the system
Turn your head away from the screen, oh people
It will tell you nothing more
don't suck the milk of flaccid Bill K. Public's empty promise
To the people that the public can ignore
This way of life is so devised to snuff out the mind that moves
Moving with grace the men despise, and women have learned to lose
Throw off your shame or be a slave of the system
I see you take another drag
One more lost soul to raise your flag
The sky is a landfill
I see you take another drag
Let's see you take another drag
you like to dance to the rolling head of the adulteress
You sing in praise of suicide
We know you're useless
Like cops at the scene of crime
With your steroids and your feedbag and your stable and your trainer
I got a mail bomb for you, Mr. Strong Arm
Throw out the stones from all the cemetery homes
for the violence of a nation gone by
or the politics of weakness and the garbage dump of souls
That will now black the sky
Their yellow haze and crowds of eyes will plug up the mind that moves
Moving with grace the men despise, and women have learned to lose
We'll share our bodies in disdain for the system
I see you take another drag
one nation bends to kiss the hag
The sky is a landfill
I see you take another drag
I see you take another drag
I have no fear of this machine
The Sky is a Landfill, de Jeff Buckley




